Língua materna x língua estrangeira: como o aprendizado de uma pode ajudar a outra?

Pesquisas acadêmicas traçam os benefícios que a união de aprendizado das línguas materna e estrangeira pode trazer para uma pessoa na infância e na vida adulta.

Para muitas pessoas, aprender uma nova língua pode ser um grande desafio. Afinal, é preciso entender outro vocabulário, pronúncia e regras gramaticais durante esse processo. No entanto, pesquisas apontam que a língua materna, aquela ensinada desde a infância, pode ajudar durante o aprendizado de um idioma estrangeiro. 

Segundo um estudo de doutorado realizado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a utilização da língua nativa funciona como uma espécie de “porta de entrada” para aprender um segundo idioma. Ou seja, os conhecimentos já adquiridos com o idioma nativo podem ser pontos de ancoragem para as informações de uma nova língua. 

Ainda segundo a pesquisa, o inverso também acontece, já que o idioma estrangeiro também causa impactos na melhora da língua materna. Além de auxiliarem no aprendizado uma da outra, essas duas línguas também possuem outras relações interessantes. Não é à toa que o tema tem sido alvo de pesquisas acadêmicas que endossam a importância que ambas podem ter no processo de aprendizagem e também nos ganhos intelectuais para os alunos. 

Língua materna e língua estrangeira como aliadas

O processo de aprendizagem de uma língua estrangeira pode acontecer de diferentes formas, podendo variar de estudante para estudante ou ainda de professor para professor. De acordo com uma pesquisa do Departamento de Letras Estrangeiras Modernas da Universidade Federal do Paraná, muitos cursos de idiomas não utilizam a língua materna como base para fornecer conhecimento para os seus alunos. 

Isso significa que, para esses professores, o vocabulário da língua portuguesa não aparece em momento algum das aulas, nem mesmo em comparações, analogias e referências. Porém, a pesquisa traz também a perspectiva de cursos que utilizam as duas como aliadas no aprendizado de seus alunos adultos, independente do idioma e do nível de conhecimento. 

Ao questionarem professores sobre a união dos idiomas no processo de aprendizagem, 25,7% dos entrevistados disseram que as comparações entre as línguas ajudam ou facilitam a compreensão dos alunos. Já 6% disseram que os conhecimentos anteriores no idioma materno e em outros estrangeiros também podem servir de subsídio para as práticas pedagógicas em sala de aula. Por fim, 1,8% relatam que esses conhecimentos são de boa valia para o trabalho dos professores. 

A pesquisa destacou ainda que há, de fato, um ganho de conhecimento para os alunos. Nos casos dos idiomas que são próximos geograficamente do português, como o espanhol, o aprendizado pode despertar reflexões e novas percepções no aluno, trazendo ainda um olhar diferenciado e afetuoso para a própria língua materna. 

Idioma materno e estrangeiro na infância

Há também pesquisas que apontam os benefícios do idioma materno e do estrangeiro na infância. Segundo um estudo do Massachusetts Institute of Technology (MIT), a infância é o período que ocorre maior fixação dos conceitos de gramática de diferentes línguas. Além disso, as crianças possuem uma maior facilidade de produção e compreensão de sons, o que ajuda do aprendizado de um novo idioma. 

Atualmente, muitos pais recorrem a aulas de inglês para crianças como uma medida de facilitar o aprendizado e acelerar no desenvolvimento dos pequenos. É o caso da empreendedora Letícia Stephanny, mãe da Laura de 3 anos que faz aulas de inglês enquanto passa pela alfabetização no português. 

Letícia relata que a pequena começou a falar muito antes do esperado para a sua idade e que o aprendizado nos dois idiomas a ajudou a se comunicar e se expressar melhor.   

“Ela começou a falar ainda aos seis ou sete meses e sempre se saiu muito bem falando tanto em português quanto em inglês. A Laura tem uma facilidade para se expressar verbalmente, sempre conjugou os verbos direitinho e usou o plural corretamente. É uma comunicadora nata”, relata a mãe.

Conforme aponta o livro “Desafios e práticas na Educação Bilíngue” da Fundação Santilana, uma criança com conhecimento na língua materna e em uma estrangeira sabe distinguir os idiomas desde muito cedo e com isso, consegue aprender sobre diferentes línguas, ambientes e situações. Esses aspectos são fundamentais para o desenvolvimento e um aprendizado mais plural nos primeiros anos de vida.

Outra pesquisa realizada pela Universidade Estadual da Pensilvânia apontou que aprender duas línguas é benéfico tanto na infância quanto na vida adulta, pois faz com que o cérebro alterne rapidamente entre os sistemas de fala. Essa capacidade, ainda conforme o estudo, consegue impactar outras tarefas do dia a dia, incluindo o aprendizado na própria língua materna e de outros idiomas. 

Ainda conforme um estudo da Unicamp, o idioma nativo e o estrangeiro juntos podem estimular o cérebro, ampliar a criatividade, o raciocínio e a capacidade de concentração.

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