Tecnologias exponenciais: desafios e perspectivas para o futuro

Por Bernardo de Azevedo e Souza


Por Bernardo de Azevedo e Souza 


“Deem-me um ponto de apoio e uma alavanca e moverei a Terra” (Arquimedes)

O ano de 1965 foi marcado por uma importante descoberta que logo se tornaria a mais conhecida das tendências técnicas. Gordon Moore já possuía um Ph.D. em química e física pelo Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech) quando publicou, na Electronics Magazine, o artigo intitulado “Comprimindo Mais Componentes em Circuitos Integrados”. No ensaio, Moore observou que o número de componentes de circuito integrado em um chip de computador havia dobrado a cada ano desde 1958 – quando foi criado o circuito –, e a tendência prosseguiria por, no mínimo, dez anos. Embora bastante ousada para a época, a previsão de Moore não apenas se confirmou, como se manteve precisa por cinco décadas. Tornou-se tão durável que passou a ser conhecida como Lei de Moore. 

A Lei de Moore afirma, em síntese, que a cada 18 meses o número de transistores em um circuito integrado dobra. Significa dizer que a cada 18 meses os computadores ficam duas vezes mais rápidos pelo mesmo preço. O leitor provavelmente lembrará daquele computador que uma vez deixou de comprar por causa do preço elevado, e que depois encontrou em uma loja qualquer com as mesmas características, mas custando bem menos. Naquele exato momento, presenciou os reflexos da Lei de Moore. (E é muito provável que tenha novamente deixado de comprar o computador na oportunidade, pois havia uma máquina mais rápida e potente para onde direcionou sua atenção.)

O constante aumento da potência, velocidade e memória dos computadores, associado à queda de preço, diminuição de peso e redução de tamanho, é um caso típico de mudança exponencial. É justamente este cenário acelerado e explosivo, em que a escassez vira abundância da noite para o dia, que torna o crescimento exponencial tão poderoso. O grande problema é que, embora as revoluções tecnológicas da atualidade demandem um novo olhar, para nossos cérebros locais – e lineares – o crescimento exponencial é algo chocante e assustador.

Se, por um lado, não havia dúvida de que a Lei de Moore afetava claramente os transistores, por outro uma indagação era constante: será que o padrão também afetava as tecnologias baseadas na informação? Na década de 80, Ray KURZWEIL provou que sim. O estudo conduzido pelo futurista estadunidense identificou que as invenções baseadas nas tecnologias atuais estariam ultrapassadas no momento em que chegassem ao comércio. Como inventor e detentor de diversas patentes, KURZWEIL preocupa-se com o futuro do mercado tecnológico. Passou, então, a estudar as tendências técnicas e delinear suas próprias curvas do crescimento exponencial.

As projeções de KURZWEIL foram compiladas no livro The age of intelligent machines, publicado em 1988. Na obra, o autor demonstrou que dezenas de tecnologias estavam seguindo um padrão de evolução exponencial. A diferença fundamental entre o crescimento exponencial e linear pode ser observada no gráfico a seguir:

Linear - Exponential

A maioria das previsões apresentou uma precisão extraordinária: dentre as mais importantes estavam a queda da União Soviética, a vitória de um campeonato mundial de xadrez por um computador, e o surgimento da World Wide Web. Em seu segundo livro (The age of spiritual machines), lançado em 1999, KURZWEIL fez novas projeções para os anos 2009, 2019, 2029 e 2099. Embora estejamos muito longe de 2099 e brevemente distantes de 2019, o autor acertou 89 de 108 previsões para 2009, um recorde inédito na história do futurismo.

A despeito do inegável crescimento exponencial das tecnologias – e seu impressionante potencial para aprimorar os padrões de vida globais –, cientistas e pesquisadores começaram a se indagar quão imensas eram as possibilidades dos novos avanços científicos. Seria possível um futuro em que as inteligências artificiais diagnosticassem doenças? Um futuro em que robôs ajudassem a educar nossas crianças?

Em seu livro Abundância: o futuro é melhor do que você imagina, Peter DIAMANDIS relata a preocupação que sentiu em 2007, quando percebeu que era insuficiente saber quais campos estavam acelerando exponencialmente. Era preciso também saber onde esses campos se sobrepunham e como poderiam funcionar de forma conjunta. Era necessário, em suma, uma ótica macroscópica da questão. Mas como (e onde) esta visão poderia se concretizar?

Após pesquisar com profundidade, DIAMANDIS observou que não havia nenhuma escola no mundo preparada para enfrentar os grandes desafios da humanidade. Nenhuma delas oferecia um currículo concentrado nas tecnologias exponenciais. Assim, era imprescindível um local onde as pessoas pudessem ir para ouvir as mais ousadas ideias, a exemplo da pretensão do astrônomo grego Arquimedes que, para mover a Terra, pediu apenas um ponto de apoio e uma alavanca. Era o momento de uma nova universidade, apropriada à acelerada expansão tecnológica e concentrada em solucionar os desafios do mundo.

Se, sozinhos, DIAMANDIS e KURZWEIL já eram considerados gênios visionários, a materialização da genialidade ocorreu, sem dúvida, no ano de 2008, quando, juntos, fundaram a Universidade da Singularidade (Singularity University). A aula inaugural, em setembro daquele ano, contou não apenas com a presença de representantes da NASA e acadêmicos de Stanford e Berkeley, como de importantes líderes de empresas multinacionais. Larry Page, cofundador do Google, fez um discurso inflamado que incentivou dezenas de participantes:

“Precisamos treinar as pessoas em como mudar o mundo. Obviamente, isso se faz mediante tecnologias. É o que vimos no passado; é o que impele toda a mudança.”

O desafio de Page, ainda que proposto de improviso, acabou sendo incorporado no DNA da universidade. A Singularity University tem atualmente mais de mil estudantes de graduação que são provocados, a cada ano, a desenvolver uma empresa, um produto ou uma organização que venha afetar positivamente, no período de 10 anos, nada menos do que 1 bilhão de pessoas. Trata-se de uma meta desafiadora, mas que, em tempos de aceleração exponencial, torna-se plenamente viável.

O núcleo do currículo da universidade é composto por oito campos em crescimento exponencial: (1) robótica, (2) inteligência artificial, (3) medicina, (4) biotecnologia e bioinformática, (5) sistemas computacionais, (6) redes e sensores, (7) nanomateriais e nanotecnologia, e (8) fabricação digital. Cada um destas áreas tem o potencial de afetar bilhões de pessoas. Cada uma destas disciplinas  tem o poder de reinventar indústrias e resolver grandes desafios. Daí decorre a importância de conhecê-las e estudá-las. Por isso, convido você, leitor, para juntamente comigo, nas próximas semanas, desbravar este universo de infinitas possibilidades.


REFERÊNCIAS

DIAMANDIS, Peter. Abundância: o futuro é melhor do que você imagina. São Paulo: HSM Editora, 2012.


Bernardo de Azevedo e Souza – Mestre e Especialista em Ciências Criminais. Diretor do Canal Ciências Criminais. Pesquisador de Tecnologia, Inovação e Futurismo. Advogado criminalista.

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